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A terceirização cria bons empregos?

27 de março de 2017 - Postado por: Gilberto Netto

Num país como o Brasil, com 13 milhões de desempregados, o debate sobre uma reforma trabalhista que facilite a criação de novos postos de trabalho é urgente. Tal debate irrompeu repentinamente na semana passada, quando a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei no 4.302, que dormia nas gavetas do Parlamento desde 1998 – quando Fernando Henrique Cardoso era presidente da República e Michel Temer presidente da Câmara. O projeto regulamenta algo que já é realidade no Brasil: a terceirização. Além de criar mais segurança jurídica para empregados e empregadores, a nova lei elimina uma distinção que só existia no Brasil, entre atividades-meio e atividades-fim. Hoje, uma escola, por exemplo, pode terceirizar mão de obra apenas em serviços como limpeza e segurança. Se a nova lei for sancionada pelo presidente, tal escola poderá também contratar empresas terceirizadas com professores. Isso não significa o fim da Consolidação das Leis Trabalhistas, a CLT criada nos anos 1950 pelo presidente Getúlio Vargas. Os trabalhadores terão os mesmos direitos, como férias e 13o salário – só que o responsável pelo pagamento de tais direitos passa a ser a empresa terceirizada.

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Pode-se dizer que o teto de gastos era uma ferramenta que sempre esteve no cardápio dos partidos e  governos brasileiros – tanto que a ideia de limitar as despesas surgiu pela primeira vez na equipe econômica do primeiro governo Lula. A reforma da Previdência, igualmente, é um ponto da agenda brasileira há muito tempo. Fernando Henrique tentou passar a idade mínima em seu governo e perdeu por um voto.

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Em entrevista em janeiro de 2016, Dilma Rousseff propôs uma reforma da Previdência praticamente idêntica à que seu ex-vice, o atual presidente, Michel Temer, submeteu aos representantes do povo brasileiro no Congresso. Se petistas, tucanos e peemedebistas concordam em tese com o teto de gastos e com a reforma da Previdência (embora frequentemente finjam que não, como costuma ocorrer no teatro da política), questões relativas à reforma trabalhista – como a terceirização – dividem os partidos. Tanto que a proposta do governo Fernando Henrique acabou indo para a gaveta durante todo o governo Lula.

Entre as críticas à proposta do governo Fernando Henrique está a possibilidade teórica de uma empresa substituir empregados contratados de acordo com a CLT por empregados terceirizados. Um outro projeto, em tramitação no Senado e aprovado pela Câmara em 2015, quando ela era presidida pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB), trazia uma salvaguarda contra essa possibilidade. Um empregado demitido de uma empresa só poderia ser contratado em regime terceirizado 12 meses depois da demissão. O deputado Alessandro Molon (Rede) acha que o novo projeto pode aumentar o número de fraudes trabalhistas. Ele fez parte da oposição ao PL 4.302 no plenário, que protestou usando os famosos patos infláveis da Fiesp (acima) num novo contexto. O fato de existir um projeto mais recente sobre terceirização causou um certo mal-estar entre os senadores. “Sobre o processo, acho absurdo que um assunto dessa importância seja votado de repente. Vem alguém e diz: ‘Mas está lá há 20 anos’. Sim, escondido e guardado”, diz o senador Cristóvam Buarque (PPS-DF). “Por exemplo, terceirização de professores. Eu nem quero rejeitar. Prefiro um professor terceirizado do que aluno sem aula, mas não houve análise detalhada de como será isso.” O presidente do Senado, Eunício Oliveira, do PMDB. decidiu colocar em pauta o projeto de 2015. “Os projetos podem ser complementares. Se tiver alguma desatualização no da Câmara, obviamente o projeto do Senado pode preencher uma possível lacuna”, diz Eunício.

Um ponto sobre o qual quase ninguém discorda é que a regulamentação da terceirização, seja por meio do projeto de 1998, seja pelo de 2015, deve gerar novos empregos. Existem divergências entre os senadores, no entanto, sobre como seriam esses empregos. Para o senador João Capiberibe (PSB), seriam empregos piores e com salários mais baixos. O senador Armando Monteiro (PTB), que foi ministro do Desenvolvimento no governo Dilma Rousseff, acha que o efeito da nova lei, se sancionada, será benéfica para todos, empregadores e empregados. Enquanto Temer não sacramentar a lei e o projeto de 2015 estiver em pauta no Senado, a discussão continuará ocorrendo – e, ao longo dos meses, deve se somar ao debate necessário sobre a reforma trabalhista, que é uma das prioridades do país.

Fonte: http://epoca.globo.com/economia/noticia/2017/03/terceirizacao-cria-bons-empregos.html


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